entrei na cozinha ás escuras.. senti um aroma. cheirava-me a morangos.
não acendi a luz. seria uma alucinação estranha. do sono talvez.. dos sonhos.
gosto dos cheiros. dos alperces, das mangas, do café, da canela, da relva cortada, do cedro, da chuva, das camisolas de inverno, dos livros antigos, da brisa salgada, dos tantos aromas suaves.. dos perfumes intensos, da pele, de alguém acabado de sair do banho.. gosto de fechar os olhos e sentir.
reconhece-los pelo que têm de próprio. pelo que marcam e denunciam. pelo que possuem.. porque nos possuem a nós, e não nós a eles.
vim deitar-me. não sem antes acender a luz e satisfazer a curiosidade. eram morangos. daqueles pequenos e doces
Ás vezes os cheiros também valem por mil palavras. São eles que muitas vezes nos levam de volta aos nossos sítios, que nos fazem estar de novo com as nossas pessoas, que nos fazem sentir perto as nossas coisas. É verdade... há cheiros que parecem sonhos... muito lindos.
olfacto, paladar e tacto..
os sentidos em que esse frutozinho me desperta..
mesmo sem luz são inconfundiveis..
como qualquer bom perfume.. ou pessoa.